Fundamentação

Estudiosos que vinheram antes de nós

domingo, 30 de setembro de 2012


A CRÔNICA ORIGINAL

    Fazer crônica não é escrever palavras bonitas nem construir frases de efeito, nem falas dos inimigos, nem elogiar amigos, nem descrever paisagens, nem contar casos fictícios querendo dar a impressão de verdadeiros, nem procurar assunto na falta de assunto, nem encher uma lauda para dizer que o dólar está subindo, nem responder cartas de leitores, nem inventar cartas para fingir que recebeu, nem tentar convencer ninguém que a vida é de amargar, nem querer impingir nos outros que em tudo há poesia, nem achar tudo triste, nem achar tudo alegre, nem falar de sua solidão, nem de seus problemas, nem dizer o que fez ontem ou o que vai fazer amanhã, nem desabafar seus problemas, nem enumerar seus vícios, nem querer corrigir os dos outros, nem bancar cabotino, nem o falso modesto, nem imaginar o tipo de mulher ideal, nem provocar enquetes, nem manter polêmicas, nem analisar a situação internacional, nem combater o governo, nem defendê-lo, nem dizer o que faria se fosse o presidente da República, nem contar numa segunda-feira onde passou o fim de semana, nem lutar pela semana inglesa, nem transcrever artigos de revistas estrangeiras, nem rememorar velhos tempos, nem citar amigos para fazer igrejinhas, nem anunciar a primavera, nem falar na falta d’água, nem endeusar os jogadores de futebol, nem proclamar que o Brasil está à beira de um abismo, nem combater o cinema nacional, nem criticar o nosso teatro, nem fazer previsões para as campanhas eleitorais, nem tirar conclusão de coisa alguma.     Se você acha que eu não consigo fazer uma crônica sem nada disso, olhe aí para cima.